A Relação Veja-Cachoeira que a Folha ainda não deu
Luiz Nassif
A Folha tem dois bravos repórteres – Cátia Seabra e
Rubens Valente – lutando com um braço amarrado. É isso que explica o fato do
lide da matéria sobre Cachoeira (a informação mais importante, que deveria
estar na abertura) ter ficado no pé:
"Em conversas no primeiro semestre de 2011,
Cachoeira disse a Claudio Abreu, diretor da Delta no Centro-Oeste, que estava
fornecendo informações sobre irregularidades no Dnit para a revista
"Veja" durante a apuração de uma reportagem".
Na verdade, a Folha (e a Globo)
têm muito mais que isso. Pelas matérias divulgadas, a Globo teve acesso às
gravações do Guardião – a máquina de grampo da Polícia Federal. A Folha tem
acesso a relatórios da Operação Monte Carlo, provavelmente do material
reservado que está no Supremo Tribunal Federal (STF), envolvendo o senador
Demóstenes Torres e dois deputados federais.
Nesse relatório existem informações relevantes
sobre a relação Veja-Cachoeira – que a Folha ainda
não deu.
O primeiro, a íntegra das conversas
entre Cachoeira e e o diretor da Delta, Cláudio Abreu, comprovando que estavam por
trás da denúncia da Veja. O segundo, as negociações da Veja,
Cachoeira e o araponga Jairo para combinar a invasão do Hotel Nahoum - na qual
foram feitos vídeos ilegais de encontros do ex-Chefe da Casa Civil José Dirceu
com políticos e autoridades.
A matéria da Veja sobre o DNIT
saiu em 3 de julho de 2011. A diretoria estava atrapalhando os negócios da
Construtora Delta. Foi o mesmo modo de operação do episódio dos Correios:
Cachoeira dava os dados, Veja publicava e desalojava os adversários de
Cachoeira.
Coincidiu com investigações que já estavam em curso
na Casa Civil, alimentando algumas versões de que o próprio governo vazara os
dados para a revista. Fica claro que era Cachoeira.
No dia 8 de julho, as escutas captaram a seguinte
conversa de Cachoeira:
Cachoeira:
Não. Tá tudo tranquilo. Agora, vamos trabalhar em conjunto porque só entre nós,
esse estouro aí que aconteceu foi a gente. Foi a gente. Quer dizer: mais um. O
Jairo, conta quantos foram. Limpando esse Brasil, rapaz, fazendo um bem do
caralho pro Brasil, essa corrupção aí. Quantos já foram, rapaz. E tudo via
Policarpo.
A partir da divulgação da íntegra do relatório e
das escutas, será possível entender alguns dados relevantes das negociações
entre as duas organizações – a de Cachoeira e a de Roberto Civita.
Nas negociações sobre o DNIT, Policarpo se
compromete a dar matéria em defesa do Bingo Online. A matéria do Bingo Online
acabou não saindo na Veja (apenas no Correio Braziliense, em matéria de Renato
Alves).
Provavelmente foi o não cumprimento do acordo que
levou Cachoeira a se queixar amargamente de Policarpo e a aconselhar os
comparsas a não passarem informações de forma descoordenada. Nas conversa,
aliás, ele confessa ter sido ele quem aproximou os arapongas da revista Veja.
Cachoeira:
Não, Jairo, foi isso não. Deixa eu falar pra você. Se Dadá estiver aí pode pôr
até no viva-voz. Olha, é o seguinte: a gente tem que trabalhar em grupo e tem
que ter um líder, sabe? O Policarpo, você conhece muito bem ele. Ele não faz
favor pra ninguém e muito menos pra você. Não se iluda, não. E fui eu que te
apresentei ele, apresentei pro Dadá também. Então é o seguinte: por exemplo,
agora eu dei todas as informações que ele precisava nesse caso aí. Por que? É
uma troca. Com ele tem que ser uma troca.
PS. Título modificado
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