Bem aventurados os misericordiosos porque
eles alcançarão misericórdia
Jesus.
Qualquer que seja a posição na vida, onde quer que se encontre a criatura, independente de ser boa, caridosa, cumpridora dos mais sagrados deveres ou não, nunca está imune à visitação das trevas, aos tropeços e às quedas originárias da falta de vigilância. Foi por esta razão que o Divino Messias nos advertiu: “Orai e Vigia...”.
Vivenciar o amor, exercitar o bem deve ser a nossa principal atenção em tudo o que fizermos, entretanto, imperfeitos que somos às vezes fraquejamos em nossa caminhada, vacilamos em nossos passos e com isto abrimos as portas do nosso coração aos emissários das sombras, que aos poucos nele vão se instalando de maneira velada e bem sutilmente, para poder mais de perto enviar suas oportunas mensagens de incentivo e melhor comandar o seu trabalho para que assim continuemos com os passos incertos, sempre nos distanciando da estrada da retidão que estávamos palmilhando.
Seguindo-lhes os conselhos e sugestões, nos tornamos diferentes, mudamos o nosso proceder, sem nada desconfiar, julgando-nos certinhos. Como se nada houvesse acontecendo dentro de nós, passamos a notar a diferença nos outros. Eles estão errados, arredios e nós é que estamos certos. Este é o quadro que normalmente se desenrola nos relacionamentos humanos do presente, que de certa forma traz consigo o carimbo dos compromissos passados.
E, prosseguindo desta forma, seguem as criaturas sem compreender o que vem acontecendo entre elas, cuja convivência anteriormente tão agradável, de forma injustificada se deteriorou, apresentando-se agora sem condições de continuidade pacífica. E quando acordam deste pesadelo, houve cometido vários deslizes no comportamento, pois na exorbitância do verbo, no exagero das palavras, usam expressões ferinas, aumentam a voz, tornam-se autoritários, julgam-se os exclusivos detentores da verdade e proclamam estar com a razão e por ela lutam, se engalfinham, como se razão fosse a coisa mais importante que a própria vida. E assim procedendo magoam a quem amam, tornam-se grosseiros, rudes, na certeza da que estavam agindo acertadamente, em defesa da verdade
E para despertarem desta situação anômala em suas vidas, indispensável se faz volverem ao que fizeram, analisar os passos dados, as ofensas feitas, as feridas abertas, procurando reparar o mal praticado, qualquer que tenha sido a sua extensão, porque, muito embora o passado não seja recuperável, pode, contudo, ser reparável.
Mas como praticarmos tal procedimento? Muito simples: basta descermos do pedestal do nosso bobo orgulho onde nos encontramos, despojarmo-nos da vaidade que guardamos, diminuir um pouco do egoísmo que alimentamos, nos humilharmos ante a própria consciência e nos penitenciarmos perante aqueles a quem muito ofendemos com nossas palavras ou gestos.
Olhar para dentro de si, reconhecer os erros e as falhas cometidas, penitenciar-se diante de quantos ofendidos, longe de ser um gesto de covardia, de fragilidade de espírito como julga o vulgo, é um ato de nobreza de caráter praticado por poucos.
Jamais será encontrado o caminho de retorno à paz de nossa consciência, sem que apliquemos a lição da humildade, nos reconciliando com aqueles viajantes da estrada como nós que, ao longo do percurso, num momento de invigilância nos desentendemos e nos afastamos um do outro, guardando certa dose de animosidade.
Pedir perdão, sinceramente, com o coração, é a prova mais contundente de arrependimento e não é próprio de qualquer um, mas de quantos recebendo as sábias aulas do Mestre na grande escola da vida, almejam avançar na conquista do seu aprimoramento espiritual, desejando seguir em direção à luz, redimindo-se para alcançar a felicidade.
E Perdoar, o que vem a ser? Perdoar, na mais sublime expressão da palavra, é esquecer a ofensa; é conceder ao outro a oportunidades de reconciliação, de entendimento, da volta a um relacionamento harmonioso, que fora interrompido.
O Perdão é uma bênção só concedida pelos misericordiosos, pois só estes é que o sentem e assim procedem, porque em seus corações na há lugar para as magoas ou os ressentimentos. Concedem-no de forma natural, de maneira bem simples, sem a mínima intenção de ferir ou humilhar.
Se pedir perdão não é próprio de qualquer um, o dar é obra de poucos e estes também o receberão, como Jesus afirmou no Sermão da Montanha: “Bem aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia”.
Guido Marcelo
Nenhum comentário:
Postar um comentário