O artigo abaixo foi extraído do Blog Espiritismogi.com.br http://www.espiritismogi.com.br/
O artigo é do estudioso e iluminado Paulo da Silva Neto Sobrinho um dos meus autores e preferidos.
"Podemos questionar as escrituras?
Introdução
É comum que apontem a nós, os espíritas, como sendo um bando de heréticos, por causa do questionamento que sempre fazemos de todo e qualquer escrito, não excluindo nem mesmo a Bíblia, o que, para eles, é a razão de nossa heresia.
Dizem que somos os responsáveis pelo desvirtuamento da fé, quando, na verdade, estamos justamente querendo que as pessoas tenham mais fé, embora isso possa parecer, à primeira vista, contraditório. O que percebemos é que, por tantas coisas absurdas, incoerentes, inconsistentes, lendárias e mitológicas contidas na Bíblia, - e não podemos nos esquecer que nela Deus é um carrasco que vinga a culpa dos pais nos filhos, como também nos imputa pecado que não comentemos – muitas pessoas tem deixado desfalecer a sua fé. Um Deus que manda para o castigo eterno as pobres almas que erram apenas por ignorância, porquanto o amor ainda não ter lhes florescido em seus corações, causa mais temor do que respeito e devoção. Coisas incompatíveis com a justiça humana são atribuídas a esse deus bíblico, muito diferente daquele que Jesus nos apresentou como sendo o nosso Pai.
Jesus, em certa oportunidade, disse: “conhecereis a verdade que a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Ora, não há como conhecer a verdade sem que façamos um questionamento amplo e irrestrito em tudo quanto aprendemos pelo ensinamento de culturas religiosas dogmáticas, extremamente presas à letra, que proíbem tudo que não leva o seu selo.
Se acontecer mesmo que “... onde se acha o Espírito do Senhor aí existe a liberdade” (2Cor 3,17), concluímos que, conseqüentemente, onde não existe a liberdade o Espírito do Senhor não se acha presente. Essa é uma verdade que deveria merecer, por parte desses líderes religiosos atuais, que vivem a proibir seus fiéis disso ou daquilo, uma profunda reflexão. Ler livros de outros autores que não os deles? Nem pensar... excomunhão na certa! Com o tempo passamos a acreditar que quem proíbe alguma coisa é porque está com medo de que a verdade seja descoberta fora daquilo em que foi induzido a crer, daí a razão óbvia da proibição.
O que é interessante nisso tudo é a falta de senso crítico e de uma análise mais profunda dos ensinamentos de Jesus. Aliás, não fosse ele um HERÉTICO, não teríamos a Boa Nova. Jesus contestou, o tempo todo, tanto as tradições quanto algumas práticas religiosas de seu tempo, indo muito mais além, pois até mesmo determinados ensinamentos contidos nas Escrituras foram, de sua parte, objeto de reformulações.
Por outro lado, existe um detalhe que faz uma enorme diferença; é que a liderança das instituições religiosas não se preocupa em ensinar a seus fiéis a devida diferenciação entre o que é história, o que é cultura e o que é realmente de origem divina. Por não ter esse conhecimento os fiéis, como se diz popularmente, “embolam o meio de campo” por não ter as mínimas condições de separar o joio do trigo aceitam pacificamente tudo quanto contém a Bíblia como proveniente da vontade de Deus. É daí também que nasce o preconceito e o sectarismo religioso, uma vez que passam a acreditar que eles são os “eleitos de Deus”.
Mas vejamos o que Jesus reformulou.
As heresias de Jesus
As escrituras não permitiam que se trabalhasse no sábado (Ex 20,8-11); inclusive, os que ousassem desrespeitar eram punidos com a morte (Ex 31,15). Jesus foi insistentemente questionado sobre esse ponto; porém, sempre dizia a seus opositores: "O sábado foi feito para servir ao homem, e não o homem para servir ao sábado” (Mc 2,27).
O adultério também era punido com a morte dos infratores, segundo a Lei mosaica (Lv 20,10); entretanto, Jesus disse à mulher surpreendida em adultério: “... Eu também não a condeno. Pode ir, e não peques mais” (Jo 8,11).
Havia uma tradição, entre os fariseus e doutores da Lei, que não era permitido comer pão sem lavar as mãos. A isso responde Jesus: “Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem" (Mt 15,11).
Em relação ao divórcio, a lei estabelecida por Moisés, permitia ao homem dar carta de divórcio (Dt 24,1), embora Jesus até tenha justificado Moisés, dizendo que ele havia feito isso por conta da dureza dos corações dos homens (Mc 10,5), não recomendou o divórcio. Disse: “o que Deus uniu o homem não separe” (Mc 10,9), acrescentando que o homem que se divorciar de sua mulher e casar com outra cometerá adultério contra a primeira (Mc 10,10).
A lei em vigor naquele tempo era o “olho por olho e dente por dente” (Ex 21,24), ao passo que Jesus nos manda: “... não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda!” (Mt 5,38).
Contrariamente à lei anterior, que permitia odiar os inimigos (Lv 26,52), orientava que “amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês” (Mt 5,44).
Conclusão
A lavagem cerebral feita e o terrorismo religioso implantado na seqüência fazem com que os fiéis não tenham a mínima coragem de questionar qualquer coisa. Seguem seus líderes, sem ao menos se darem conta de que esses líderes fazem parte daqueles a quem Jesus denominou de “cegos, guiando cegos”. O objetivo deles é tão bem atingindo, que os fiéis morrem de raiva quando encontram alguém que questiona a Bíblia, dizendo não ser ela inerrante ou que não seja a palavra de Deus. Acham, acreditamos, que é uma ofensa a Deus tais coisas; entretanto, ofensa maior é não usar a inteligência que Deus nos deu, pois estaremos agindo como irracionais.
A verdade prevalecerá de alguma forma aos que buscam ampliar seus conhecimentos, mas para isso é necessário ler muito e de tudo, até mesmo o que for contra. Essa é a única forma de se fazer um perfeito juízo das coisas. Mas como fazer isso, se não há incentivo? Ao contrário, há inúmeras proibições! Essas proibições são o maior atestado de que aquilo que falam, pregam ou seguem não é verdadeiro, pois quem está com a verdade não teme absolutamente nada.
Como provamos acima, aquele a quem seguimos (Jesus) foi um exímio contestador. Pena é que os fiéis amedrontados não vejam isso. Falando à maneira dos fundamentalistas: mas no dia do juízo, coitados deles..."
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